Olhares do Cotidiano

24 de janeiro de 2006

Tornei-me Saudades.



Muitas vezes sentado na popa de um barquinho me torno Saudades. Os rios aqui da região amazônica tem um traçado sinuoso; é quase impossível não fazer uma analogia com a própria vida. O curioso é que sentado na popa eu sei que existe uma proa, muitos se esquecem disso, que avança de forma inexorável , implacável!!!

Sinto profunda admiração por estórias de pessoas que mudam suas convicções, alteram o curso dessa inevitabilidade. Pelos mais variados motivos descobri uma grande potencialidade humana, talvez uma das mais difíceis de assumir: - MUDAR! (com certeza os psicólogos têm uma explicação muito plausível para isso, rss).

Entre uma curva e outra, vou fazendo um balanço, meio matreiro da vida; sei quando estou puxando a balança à meu favor, e consigo dar umas risadas com isso, outras vezes mais introspectivo, me silêncio-o.

Sem dúvida alguma fui me tornando um admirador de um filósofo da antiguidade chamado Heráclito, ele tinha uma frase célebre:-PANTA REI, (TUDO FLUI).

E aqui tem um detalhe importante, concordo com ele que tudo flui, mas ALGO permanece. Esse algo que permanece, eu observo com uma atitude pacífica aqui da popa, num instante eu pressinto a permanência! Torno-me um amálgama com minhas memórias, nesse momento sou Saudades.

É aqui nesse espaço complexo, de união, de re-união com o tempo passado, que concebo a vida àquilo que a proa insiste em afogar no esquecimento, é um borbulhar de minúsculas emoções, mínimos detalhes, que começam a fazer toda a diferença. Nesse espaço, as grandes ideologias, que se ocupam de nós perdem sua força!

Em outras palavras, eu quero dizer que existe uma grande força libertadora dentro de nós. Nesse espaço não há imposturas, aqui todos estamos nus, desvelados, revelados. Saudades hoje é carne, é vida, respira e tem muitos nomes.

Ahh, outro dia conversamos sobre a proa!

Hoje fico por aqui, Amo sês tudo (rss)... continua valendo a pena Sorrir...

3 Comments:

At qua. jan. 25, 04:48:00 PM AMT, Anonymous Anônimo said...

otimo...pensei sobre alma, sobre corpo.."saudades hoje é carne..." eh o local, a unidade...sigo pensando e aprendendo.

 
At qua. jan. 25, 04:48:00 PM AMT, Anonymous Anônimo said...

ze hartmann

 
At qua. jan. 25, 10:01:00 PM AMT, Anonymous Anônimo said...

Não estou numa popa, tampouco numa proa, apenas uma cadeira me sustenta e dela revejo imagens que minha mente e coração insistem em tornar presente. E agradeço pela memória que não precisa da repetição para conservar uma lembrança. Antes, é aquela que guarda alguma coisa, fato ou palavra únicos, irrepetíveis e mantidos por nós por seu significado especial afetivo, valorativo ou de conhecimento.
Mesmo com o sofrer advindo das dores, dos infortúnios (meus ou do outro), a vida pode ser uma festa. Estou com Nietzsche, quando mostra que todas as peripécias, negativas e positivas, fazem parte da fantástica dança da existência. O tempo se esvai e não volta mais......... Cantemos, pois, a vida na sua finitude, na sua contingência, na ausência de instâncias absolutas, de improváveis ( ? ) saídas para mundos melhores ( ? ) ou para o recolhimento na suposta vida essencial da apreciação. Disse o profe: “... nesse espaço complexo, de união, de re-união com o tempo passado, que concebo a vida àquilo que a proa insiste em afogar no esquecimento, é um borbulhar de minúsculas emoções, mínimos detalhes, que começam a fazer toda a diferença. Nesse espaço, as grandes ideologias, que se ocupam de nós perdem sua força...”
O tempo se esvai...não volta mais, todavia as lembranças trazem eventos vivenciados e guardados com carinho e aí também me “Torno Saudades”.
Casimiro de Abreu, em “Deus e o mar”:
Eu me lembro,
Eu me lembro!
Era pequeno e brincava na praia.
O mar bramia
E erguendo o dorso altivo sacudia
A branca espuma para o céu sereno.
Eu me lembro! Eu me lembro! Entrei no Rio Negro.
Eu me lembro que já fui criança, e graças à paciência de meus coleguinhas, pude arriscar-me a ficar um pouquinho dentro do rio. E em sendo criança, arriscar mais um pouquinho e brincar no Rio Negro.
Aristóteles escreveu, na Metafísica:
“É da memória que os homens derivam a experiência, pois as recordações repetidas da mesma coisa produzem o efeito duma única experiência.”
Ora, se a memória não precisa de repetição para conservar uma lembrança, é ela mesma, que repetidamente me traz as recordações dos tempos passados e me fazem querer voltar.
E como não querer voltar? Como não querer voltar num lugar onde a natureza vestiu a sua mais excelsa roupagem para brindar-nos com um maravilhoso espetáculo de verdor ( que esperamos fosse eterno), verdor e verdor. Verdor, em projeção refulgente por obra generosa de um sol imaculado. Como não embeber o espírito de emoção ao rever as fotos do pôr do sol, dos curumins ao entardecer banhando-se, dessa embarcação na Comunidade Terra Preta?
E dessa cadeira relembro o fascinante panorama de matas, rios, comunidades onde a vida , ora canta, ora ri, ora chora e se entristece.
Nas páginas de “Assim Falou Zaratustra”, encontramos um canto à totalidade da vida. "Tudo vai, tudo volta, roda eternamente a roda do ser.
Tudo morre e volta a florir.
Eternamente se desenrola o ciclo da existência.
Eternamente se edifica a habitação do ser.
O ciclo da existência conserva-se eternamente fiel a si mesmo.
A existência recomeça em todos os instantes.
O centro está em toda as partes.
A eternidade regressa pelo seu próprio caminho"
E nessa hora sou solidária ao profe e “Torno-me Saudades”.

 

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