Olhares do Cotidiano

11 de fevereiro de 2006

Solo Sagrado


Solo Sagrado

Há um lugar no mais íntimo do Homem, deste lugar procede a vida do Amor.

Por mais que penetremos neste lugar... por mais profundo que o busquemos....

A origem desse lugar se esquiva sempre na distância, sempre mais profunda...

em raríssimos momentos podemos sentir a Presença da Eternidade...

É um tesouro oculto, que atrai somente pelo seu murmúrio ...

É uma vida oculta que tem em si mesma o movimento e o repouso....

Alegre-se com o Amor, tentar esquandrinhá-lo é a essência do sofrer!

Este solo é Sagrado em sua essência e em suas obras...

Tu sabes que estás no caminho, quando chega ao ponto de sentir-se diluído...

Quem Sou....Quem és Tu???

7 de fevereiro de 2006

A Amizade...será eterna...

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Uma Conversão

Uma Conversão

Este magnífico texto do filósofo Martin Buber, foi extraído do seu pequeno livro ENCONTRO, fragmentos autobiográficos. Está aqui por um motivo simples, além de sua beleza e força intelectual, porque que têm profundas raízes em meu próprio ser; cada vez que o leio descubro novas sutilezas e insondável riqueza tanto espiritual quanto moral... Sua força reside em parte em sua simplicidade e em parte poque abarca o cotidiano e aquilo que chamamos de espiritualidade...
Penetrante.... bom vamos lá... ele está completo...

Uma conversão

Na mocidade o "religioso" era para mim uma exceção. Havia horas que eram retiradas do curso das coisas. A casca firme do cotidiano era perfurada em algum lugar. Então falhava a segura continuidade dos fenômenos; a investida que acontecia rompia sua lei. A "experiência religiosa" era a experiência de uma alteri­dade que não intervinha no contexto da vida. Isto podia começar com algo familiar, com a contemplação de algum objeto familiar que, então, subitamente, se tornava secreto e inquietante, por último transparente na escuridão com relâmpagos do próprio mistério. Contudo, podia também, subitamente, despedaçar o tempo - primeiramente a sólida construção do mundo, depois pulverizou-se a ainda mais sólida autoconfiança e a gente, o "a gente" sem substância que apenas se era, não se conhecia mais, era entregue à plenitude. O "religioso" sobressaía na gente. Acolá estava, pois, a habitual existência com suas ocupações; aqui, po­rém, reinava enlevação, iluminação, êxtase, atemporal, inconse­qüente. A única existência abrangia então um aquém e um além, e não havia nenhum vínculo senão, sempre, o instante efetivo da passagem. A ilegitimidade de uma tal repartição da vida temporal que aflui para a morte e a eternidade, que frente a elas não se pode realizar de outra maneira senão, justamente, realizando a sua temporalidade, eu compreendi, através de um acontecimento do cotidiano, um acontecimento orientador, orientando com aquele dito de lábios fechados e de olhar imóvel, como o usual curso das coisas gosta de pronunciá-lo.

Nada de mais aconteceu: certa vez, numa tarde, depois de uma manhã de júbilo "religioso", sem estar com a alma presente, recebi a visita de um jovem desconhecido. Eu não deixei faltar, de modo nenhum, uma amistosa mostra de boa vontade, eu não o tratei mais descuidadamente que a todos os da sua idade que costumavam me procurar nesta hora do dia como a um oráculo que não é intransigente. Conversei com ele atenciosa e francamen­te - e só deixei de adivinhar as perguntas que ele não colocou. O conteúdo essencial destas perguntas eu fiquei sabendo mais tarde, não muito tempo depois, de um de seus amigos - ele próprio já não vivia mais (morreu no início da Primeira Guerra Mundial). Soube que ele não havia vindo a mim acidentalmente, mas sim fatalmente, não para uma conversa amena, mas sim para uma decisão, justamente a mim, justamente nesta hora. O que espera­mos quando estamos desesperados e mesmo assim ainda nos dirigimos a uma pessoa? Talvez uma presença através da qual nos é dito que o sentido todavia existe.

Desde então eu abandonei aquele "religioso" que não é nada mais que exceção, retirada, saída, êxtase; ou ele me abando­nou. Eu não possuo nada além do cotidiano, do qual eu nunca sou retirado. O mistério não se abre mais, ele se subtraiu ou fixou domicílio aqui, onde tudo acontece como aconteceu. Eu não conheço mais nenhuma plenitude além daquela de cada hora mortal, de exigência e responsabilidade. Longe de estar à altura dela, eu sei, porém, que sou solicitado pela exigência e posso responder à responsabilidade, e sei quem fala e quem exige resposta.

Muito mais eu não sei. Se isto é religião, então ela é simples­mente tudo, o simples todo vivido na sua possibilidade do diálogo.

Aqui também há espaço para as mais altas formas. Como quando tu rezas e com isto não te afastas desta tua vida, mas justamente te referes a esta vida rezando, quer dizer, admitindo-a, seja no inaudito como no assaltante, quando és chamado do alto, requerido, eleito, autorizado, enviado. Com este teu pedaço mor­tal de vida estás na mente, este instante não é retirado, ele se apóia no que foi e acena para o resto ainda muito vivo. Não és tragado em uma plenitude sem compromisso, és desejado para a solida­riedade.

Martin Buber,1932.

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